Presos do regime semiaberto trabalham na colheita de uvas em Petrolina no Sertão de Pernambuco

Os presos estão tendo uma chance de recomeçar (Reprodução do G1 / Foto: Emerson Rocha)


A produção de uva do vale do São Francisco vem se destacando ao longo dos anos pela qualidade e por dar origem a alguns dos principais vinhos do Brasil. Em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, a fruta está virando sinônimo de recomeço para 25 detentos do regime semiaberto da Penitenciária Doutor Edvaldo Gomes.

Desde o dia 22 de setembro, de segunda a sábado, durante 48 horas semanais, o grupo trabalha em uma fazenda da região. As mãos que um dia foram utilizadas para cometer crimes, hoje estão colhendo uvas que serão vendidas dentro e fora do país.

Condenado a 14 anos de prisão por homicídio, José*, 47 anos, está há sete atrás das grades. Ao lado dos companheiros, tenta reescrever a história de sua vida. “Tem gente que acha que não tem como [ressocializar], mas tem. É como falaram na reunião: a gente aqui é tipo uma mancha, mas essa mancha vai sumir da alma da gente, da vida da gente, entendeu? A gente quer voltar a fazer tudo direito, voltar ao normal que era”, diz.

Para trabalhar na fazenda, os presos passaram por um processo de seleção. Segundo Raniele Aquino, supervisor de laborterapia da Penitenciária Dr Edvaldo Gomes, foram avaliados pareceres psicossociais e o comportamento dentro da prisão. Além disso, os reeducandos passaram por entrevistas. Ele conta que a iniciativa da parceria veio da fazenda.

“A princípio, a fazendo nos procurou porque eles já tinham visto um trabalho semelhante e viram que a gente tinha uma quantidade de reeducandos do regime semiaberto. Fizemos um treinamento com eles e, depois de tudo pronto, a fazenda e a Secretaria-Executiva de Ressocialização providenciaram toda parte burocrática do convênio. Quando ficou tudo pronto, eles começaram a trabalhar”, explica.

O convênio feito entre o estado e a fazenda beneficia 100 presos. Destes, por enquanto, apenas 25 estão trabalhando. De acordo com Raniele, o número aumentará gradativamente. “A tendência é ir aos pouco colocando esse pessoal. É um trabalho que a empresa está gostando e eles agarraram essa oportunidade e não querem largar porque é uma forma que eles têm de resgatar a sua dignidade e se relocarem novamente na sociedade”.

O diretor-geral do grupo que administra a fazenda, Arnaldo Eijsink, destaca os pontos positivos do projeto. “Ainda está um pouco cedo, mas o resultado previsto deste projeto é a integração social, mesmo depois deles estarem fora, com um possível emprego garantido. Eu acredito em uma satisfação, na felicidade dos familiares deles sabendo que hoje eles estão no campo trabalhando. É um conjunto de pontos que deixa todo mundo feliz”.


A cada três dias trabalhados, os presos ganham a redução de um dia da pena (Reprodução do G1 / Foto: Emerson Rocha)

Além do ganho social, o empresário vê benefícios na produtividade da fazenda. “É impressionante a qualidade e a produtividade deles. No sentido de quando comparados com os outros colaboradores nosso, não perdem em nada. Não deixam nada a desejar. É ótimo para nós quanto a resultado econômico. Passa a não ser um projeto encarado como apoio social, uma ONG, ao contrário. Aqui, economicamente, está sendo ótimo. Fecha com chave de ouro o nosso projeto social. Inciamos com 25 e estamos avaliando os dois lados, em conjunto, para chegar em um número maior”.

Redução nas penas

A cada três dias trabalhados, o preso tem direito a redução de um dia na pena. Ainda de acordo com a Lei de Execuções Penais, que rege o contrato da mão de obra carcerária, o preso recebe um valor correspondente a 75% do salário-mínimo, sendo 25% destinado ao recolhimento do pecúlio, que só poderá ser utilizado após o fim da pena.

Antes de ir preso, Cláudio*, 41 anos, diz que trabalhava como agricultor. Condenado a 17 anos, ele está há seis no presídio de Petrolina. Quando cumprir sua sentença, sabe que enfrentará preconceitos. No entanto, quer mostrar que é possível recomeçar.

“É uma oportunidade que nós está tendo para diminuir nossas sentenças para logo a gente está no meio da sociedade. Quando terminar minha pena eu espero continuar da forma que eu vinha trabalhando, continuar indo para a igreja. Nós, que somos ex-presidiários, somos malvistos pela sociedade, mas temos que mostrar que não somos da forma que a sociedade pensa”, garante. As informações são de Emerson Rocha / G1 Petrolina.

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