Conselho de Medicina faz sindicância para apurar se hospital fechou portas

Hospital Universitário atende cerca de 53 muinicípios (Foto: Taisa Alencar / G1)

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Sílvio Rodrigues, concedeu uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (16), em Petrolina, no Sertão do Estado, para falar sobre a situação do Hospital Universitário (HU). A coletiva foi realizada depois que uma vistoria que foi feita na unidade hospitalar, para apurar a denúncia de que o portão do HU foi fechado na madrugada do sábado (12), para o domingo (13), impossibilitando a entrada de pacientes que precisavam de atendimento.
De acordo com Sílvio, já existia uma fiscalização agendada para a unidade, a pedido do Ministério Público Federal para uma reavaliação do HU. Mas, devido a situação ocorrida durante o final de semana, a presença do Cremepe foi antecipada. Na visita, foi constatado a falta de plantonistas no fim de semana e a comprovação de que as portas da unidade foram realmente fechadas.
Presidente do Cremepe, Sílvio Rodrigues confirmou que o hospital teve as portas fechadas no último sábado (12) (Foto: Taisa Alencar / G1)Presidente do Cremepe, Sílvio Rodrigues
confirmou que o hospital teve as portas
fechadas no último sábado (12)
(Foto: Taisa Alencar / G1)
“Do sábado para o domingo, o plantão estava com apenas dois clínicos, não tinha nenhum cirurgião no plantão e não tinha anestesista de plantão. Existiu a situação de fechamento do portão. Isso é fato, aconteceu. Existiu uma situação de restrição da unidade. O profissional médico de plantão pode restringir o plantão se notar que existe uma sobrecarga, aumentando muito a sua capacidade de atuar. Mas, restrição não é deixar de atender, é avaliar e atender os pacientes que estão com risco de morte”, esclareceu Sílvio.
Para apurar o que de fato ocorreu, uma sindicância será instaurada. “Nós falamos com a direção do hospital, fiscalizamos toda a emergência, pegamos toda as escalas de plantão de como estava a situação. Nós pegamos a escala de plantão daquele dia, pegamos a situação do que aconteceu naquele dia com os plantonistas, vendo quem estava, quem precisou se ausentar por algum motivo. Pelo que foi conversado, já tenho minha opinião, mas a partir do momento que abrimos sindicância, segue em sigilo. O Conselho que irá apurar”, destacou Rodrigues.
Já para tentar regularizar o número de profissionais contratados, o Cremepe pretende entrar com uma ação civil contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), que gerencia a unidade. “Vamos pedir que adeque o número de especialidades suficientes para suprir essa situação vivenciada pelo Hospital Universitário. A fiscalização vai servir para isso também, para instrumentalizar uma ação civil com pedido de liminar para que se chame um quantitativo suficiente de especialidades, através da justiça”, ponderou.
A possibilidade de haver uma interdição ética na unidade foi descartada pelo presidente do Cremepe. “Dentro da urgência que vive o hospital a gente não pode pensar nesse momento em pedir uma interdição. A gente tem que ir pelo caminho inverso. Tem que exigir que o Governo Federal, a EBSERH, que supra de forma suficiente o número de profissionais daquela unidade. A justiça vai dar 48 horas para que a empresa se manifeste. Notificamos inicialmente a gestão e avisamos que vamos entrar com a ação e paralelo a isso vamos instrumentalizar o Ministério Público Federal para conseguir essas medidas", esclarece.
Fiscalização
Sobre a fiscalização realizada nesta quarta-feira (16), Sílvio disse que o principal problema continua sendo a falta de médicos especialistas. “É o único hospital de referência de trauma para 53 municípios com um total de dois milhões de pessoas. Dai já sabemos que é um hospital que tem um quantitativo de leitos inferior a necessidade da região. Já encontramos de tudo aqui, mas o que vem persistindo dentro das nossas fiscalizações é a falta de recurso humano, principalmente em relação a anestesistas, que hoje é o grande problema da unidade e sobretudo nos finais de semana”, ressaltou.
De acordo com o presidente do Cremepe, nas sextas e sábados não tem plantonista noturno e no domingo e na segunda no plantão diurno a situação é a mesma, onde o hospital funciona sem nenhum anestesista de plantão. “Na nossa avaliação deveria existir no mínimo dois ou três anestesistas por plantão da unidade. As outras especialidades estão mais ou menos cobertas, apesar do Conselho achar que o número de dois clínicos por plantão é inferior a necessidade. Deveríamos ter de três a quatro porque tem que dar suporte a toda a sala vermelha e a sala amarela”, falou Sílvio.
Na fiscalização foi constatado também que a fila de esperar para cirurgias ortopédicas, continua. “95% dos pacientes internados na unidade são pessoas que esperam por uma cirurgia de ortopedia. E ai vimos que ainda existe um convênio firmado entre as prefeituras de Petrolina e Juazeiro para contratação de anestesistas e ortopedistas. Mas, o número de vinda desses especialistas para dar o suporte em conjunto com o hospital ainda é um número pequeno para a necessidade que tem”, disse o presidente do Cremepe.
Devido a situação, Sílvio enfatizou que está sendo criada uma fila de 'aleijados'. “A partir do momento que a cirurgia não é resolvida no primeiro tempo, ele vai ficar para um segundo tempo, muito mais complicado e vai ficar com alguma sequela que deixou de ser resolvida. Corremos o risco de criar uma geração de deficientes físicos. Deve existir uma pactuação por parte do Governo Federal, Estadual e dos municípios. O Ministério Público vai ter um papel fundamental nisso, de formular um Termo de Ajuste de Conduta com todos esses entes, para que a gente tente diminuir na região essa fila”.     (Taisa Alencar Do G1 Petrolina)

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