Teste do pezinho: 28% não fazem em Pernambuco



Nos primeiros dias de vida, mais exatamente entre o 3º (72 horas completas) e o 5º dia após o nascimento, todos os pais ou responsáveis têm um compromisso que deveria ser inadiável: levar o recém-nascido para fazer o teste do pezinho, que tem seu dia nacional celebrado nesta terça-feira (06/06). 

O procedimento é simples: por meio de uma punção no calcanhar, são retiradas algumas gotas de sangue, que são aplicadas em um papel-filtro, encaminhado, em seguida, para análise no Laboratório Central de Pernambuco (Lacen). A partir disso, é possível diagnosticar, precocemente, quatro doenças que, se não tratadas, podem deixar sérias sequelas nos meninos e meninas. São elas: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Fibrose Cística e Doença Falciforme e Outras Hemoglobinopatias.

Em Pernambuco, uma média de 72% dos recém-nascidos passa por essa triagem, percentual que aumentou em relação a 2007, que tinha uma cobertura de 55%. Mesmo assim, 28% dos recém-nascidos ainda não chegam aos serviços de saúde para fazer o teste. O Ministério da Saúde preconiza que o ideal é uma cobertura acima de 90%. Outra questão é que apenas 20% das crianças chegam aos serviços no período ideal, entre o 3º e o 5º dia de vida.

Atualmente, a Rede de coleta do teste do pezinho possui 220 pontos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) espalhados por 183 municípios pernambucanos (99,45%). Apenas Paudalho ainda não possui ponto de coleta, que está sendo estruturado.

Para discutir o assunto, a Gerência de Saúde da Criança e do Adolescente, por meio da Coordenação da Triagem Neonatal Biológica promove, nesta terça (06.06), das 8h30 às 13h, videoconferência para todas as 12 Regionais de Saúde (Geres) espalhadas pelo Estado. 

O objetivo é reforçar a importância de garantir o fluxo da assistência da triagem neonatal, e ampliar o conhecimento das doenças diagnosticadas por meio de palestras de profissionais que atuam nos ambulatórios de referência para tratamento e acompanhamento das doenças triadas: Hospital Barão de Lucena, Hemope e Imip. A iniciativa é voltada para profissionais dos Pontos de Coleta do Teste do Pezinho, Atenção Primária, Atenção à Saúde da Mulher, Criança e Adolescente, além de representante Estadual, Regional e Municipal da Regulação, Educação e Conselho Titular.

“Desde 2012, por meio do estímulo aos municípios para abrirem novos pontos de coleta nas Unidades Básicas de Saúde, ampliamos em 23% o número de unidades que realizam o teste do pezinho para que possamos facilitar o acesso para todas as crianças. Esse é um procedimento indispensável para diagnosticar precocemente doenças graves que, se não tratadas a tempo, podem provocar atraso no desenvolvimento da criança e até mesmo retardo mental irreversível”, afirma a coordenadora estadual de Triagem Neonatal da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Telma Costa.

Quando algum recém-nascido tem resultado suspeito para alguma das quatro doenças triadas, há uma articulação com a atenção primária do município e o ponto de coleta. O objetivo é a busca ativa do recém-nascido, visando a confirmação do diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento, o que irá dar mais qualidade de vida e de desenvolvimento da criança.

Entre 2014 e 2016, 189 crianças foram diagnosticadas com uma das quatro doenças triadas pelo teste do pezinho. A maior parte dos casos foi para doença falciforme e outras hemoglobinopatias: 107 (56,6%). Em seguida, vem Hipotireoidismo Congênito (64 casos – 32,2%), Fibrose Cística (14 casos – 7,4%) e Fenilcetonúria (4 casos – 2,1%).

COMO FAZER – Para fazer o teste do pezinho, os pais ou responsáveis devem levar um documento de identificação com foto, a certidão de nascimento da criança ou declaração de nascido vivo entregue pela maternidade na alta (via amarela) e o comprovante de residência.

Após a coleta, as amostras são encaminhadas, por meio dos Correios, para o Lacen, responsável pelo exame. A logística de transporte das amostras pelos Correios tem contribuído com a redução de tempo entre a coleta e a liberação do resultado.

“Se o recém-nascido receber alta antes de completar 72 horas de vida e residir em município distinto do local de nascimento, a maternidade deve orientar os pais ou responsáveis para levar o recém-nascido ao ponto de coleta mais próximo da sua residência. Ressaltamos, ainda, a importância dos profissionais nas consultas de puericultura solicitar o resultado do teste do pezinho e registrar na Caderneta de Saúde da Criança”, reforça Telma Costa.

DOENÇAS

DOENÇA FALCIFORME – É uma doença genética e hereditária, ou seja, passada de pais para filhos. Teve sua origem na África e por isso está relacionada intimamente com a afrodescendência. Ela é causada por um defeito na cadeia beta da hemoglobina que está dentro das hemácias e que é responsável pela cor vermelha do sangue e pelo transporte do oxigênio por todo o corpo. Tal mutação leva as hemácias a assumirem uma forma parecida com uma foice ou meia lua impedindo o seu funcionamento normal. A doença provoca dores, anemias e atraso no crescimento.

FENILCETONÚRIA – É uma doença genética causada pela ausência ou diminuição da atividade de uma enzima que metaboliza o aminoácido fenilalanina presente no leite e em outros alimentos proteicos. Sem essa enzima, os níveis de fenilalanina aumentam no organismo, se acumulam e causam lesão cerebral, ocasionando retardo mental irreversível. A base do tratamento é o controle da quantidade de fenilalanina que pode ser ingerida para manter os níveis deste aminoácido dentro de valores não prejudiciais ao cérebro.

HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO – É causado pela incapacidade da glândula tireóide do recém-nascido produzir quantidades adequadas de hormônios tireoidianos, o que resulta numa redução generalizada dos processos metabólicos. As crianças que não realizam o teste do pezinho, e consequentemente, não são tradas precocemente, terão o crescimento e o desenvolvimento seriamente comprometidos.

FIBROSE CÍSTICA – Doença hereditária que afeta especialmente os pulmões e o pâncreas, num processo obstrutivo causado pelo aumento da viscosidade do muco. Nos pulmões, esse aumento na viscosidade bloqueia as vias aéreas propiciando a proliferação bacteriana, o que leva infecção crônica, à lesão pulmonar e ao óbito por disfunção respiratória. No pâncreas, quando os ductos estão obstruídos pela secreção espessa, há uma perda de enzimas digestivas, levando à má nutrição.

TRATAMENTO – A rede de acompanhamento e tratamento encontra-se estabelecida no Hospital Barão de Lucena (HBL) (Fenilcetonúria e Hipotireoidismo congênito), Hemope (Doença Falciforme e Outras Hemoglobinopatias) e no Imip (Fibrose Cística).

Postar um comentário

0 Comentários