Corrupção no Corinthians: remessa para empresa fantasma foi feita dentro do Parque São Jorge


Parque São Jorge - Reprodução/Google Maps


A investigação sobre o desvio milionário dentro do Corinthians revelou o caminho do dinheiro e os rastros deixados pelo grupo criminoso. O esquema teve início nos dias 18 e 21 de março do ano passado, quando a conta corrente do clube paulista fez duas transferências de R$ 700 mil para a empresa Social Media Design, que é de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé. Ele trabalhou na campanha de Augusto Melo à presidência do clube. Segundo a Polícia Civil, o valor foi desviado do contrato de patrocínio de R$ 360 milhões com a empresa de apostas Vai de Bet.

A empresa de Cassundé realizou as primeiras transferências para empresas de fachada. Em 25 de março, foi feita uma remessa de R$ 580 mil para a Neoway Soluções Integradas, registrada no nome de uma jovem de 23 anos moradora da periferia de Peruíbe, no litoral paulista. Com base na geolocalização do celular de Cassundé, a polícia descobriu que ele estava dentro do Parque São Jorge, sede do Corinthians, no momento em que realizou a transferência.

As quebras de sigilo bancário apontaram que o destino final do dinheiro foi a conta de uma empresa delatada por Antônio Vinícius Gritzbach por suposta ligação com o crime organizado. Gritzbach fechou acordo com o Ministério Público para detalhar esquema de lavagem de dinheiro do PCC antes de ser executado em novembro passado, no Aeroporto Internacional de São Paulo, por ordem de traficantes.

Segundo o delator, a UJ Football Talent – uma empresa sem lastro financeiro que agencia vários jogadores – tem como sócio oculto e verdadeiro dono Danilo Lima, conhecido como Tripa, um traficante de drogas ligado à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Outra fantasma

A investigação também identificou que a empresa Wave Intermediações, responsável por transferir quase R$ 900 mil para a UJ Football, era de fachada. No papel, o proprietário é um motoboy que mora no litoral paulista. Assim que a empresa foi descoberta pela polícia, ela foi fechada.

Os investigados souberam que o caminho do dinheiro havia sido descoberto após um segundo depoimento do ex-diretor do clube Rubens Gomes, conhecido como Rubão. O delegado Thiago Fernando Correia investiga também quem financiou a campanha de Augusto Melo à presidência do Corinthians, já que o desvio pode ter acontecido para o pagamento de dívidas.

Em depoimento, ao ser questionado sobre o tipo de empresa envolvida na transação, Rubão respondeu: "De agência de jogador, de tudo que o senhor imaginar." Quando perguntado sobre a UJ Football pelo promotor do Gaeco Juliano Atoji, ele respondeu que o nome não lhe era estranho, mas que não se lembrava.

Os investigados tomaram conhecimento do conteúdo do depoimento no dia 23 de abril, quando o vídeo foi incluído no inquérito. Dois dias depois, em 25 de abril, a empresa Wave foi oficialmente encerrada, numa tentativa de apagar os rastros que a ligavam à UJ.

A empresa de fachada tinha dois endereços. Investigadores foram aos locais e confirmaram que a Wave nunca existiu de fato.

O próximo passo da investigação será a entrega do relatório final, com o indiciamento dos envolvidos pelos crimes de furto qualificado, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A Vai de Bet rescindiu o contrato de R$ 360 milhões com o Corinthians depois que o pagamento da comissão, que não estava previsto no acordo, foi revelado.

Em nota, o Corinthians afirmou que "não tem responsabilidade por qualquer direcionamento de dinheiro que não esteja na conta bancária do clube" e que não comentará o caso, que corre em segredo de Justiça.

Posicionamento do Corinthians

"Corinthians apoia investigações e reforça transparência

O Sport Club Corinthians Paulista informa que, até o momento, não há qualquer demonstração de autoria relacionada aos fatos mencionados. O presidente do Clube reafirma seu total apoio às investigações em andamento, bem como a todas as iniciativas que visem apurar eventuais envolvimentos do crime organizado no futebol brasileiro.

O Corinthians destaca que é vítima das circunstâncias investigadas e reforça que não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados. O Clube cumpre rigorosamente todas as suas obrigações legais e contratuais, prezando pela transparência e integridade em suas operações.

O Corinthians reitera seu compromisso com a transparência, a responsabilidade e a justiça no esporte, apoiando todas as medidas necessárias para garantir a lisura das competições e combater práticas ilícitas no futebol."

Posicionamento da UJ

"Diante das recentes matérias veiculadas na imprensa, a UJ Football Talent vem a público esclarecer:

1.⁠ ⁠A empresa UJ Football Talent é uma empresa individual (EIRELI), conduzida exclusivamente por seu proprietário legal. O senhor Danilo Lima não é e nunca foi sócio, gestor ou colaborador da UJ, tampouco possui qualquer participação societária ou vínculo com a condução da empresa.

2.⁠ ⁠Conforme já informado anteriormente, a UJ não possui e nunca possuiu qualquer relação com grupos ou atividades ilícitas. A tentativa de associação da empresa a investigações criminais é infundada e carece de qualquer base legal ou factual.

3.⁠ ⁠A título de comissão pela intermediação da transferência do jogador Emerson Royal ao clube Barcelona, houve repasse de valores da empresa do Danilo Lima à UJ Football Talent, de forma regular e declarada, dentro dos trâmites usuais de mercado.

4.⁠ ⁠Nem a empresa, nem seu proprietário, jamais foram alvo de qualquer investigação relacionada a essas operações ou a qualquer outro tipo de atividade ilícita. A tentativa de associar a UJ a condutas criminosas não apenas é injusta, como criminosa, carecendo totalmente de fundamento.

5.⁠ ⁠A UJ Football Talent atua há anos no mercado de forma transparente, legal e ética, respeitando todas as normas regulatórias e fiscais que regem o setor de agenciamento esportivo.

Por fim, reiteramos que a leviana tentativa de associar indevidamente a UJ Football Talent a uma investigação criminal é uma narrativa irresponsável e que poderá gerar responsabilização civil e criminal aos seus autores e propagadores. Estamos à disposição para esclarecimentos adicionais e solicitamos que esse posicionamento seja respeitado e considerado nos conteúdos futuros para evitar novos equívocos."


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