'É difícil conviver com a ausência', diz pai de Beatriz 1 ano após morte em PE

'Nossa vida parou no dia 10 de dezembro', disse pai de Beatriz (Foto: Taisa Alencar / G1)



Beatriz Angélica Mota tinha 7 anos quando foi morta a facadas, durante uma festa de formatura no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Neste sábado (10), a morte da criança completa 1 ano e até o momento nenhum suspeito foi preso. Para os pais, além da dor de perder a filha, a demora em solucionar o crime, e a saudade, causam ainda mais angústia.

O caso segue sob sigilo e poucas informações foram divulgadas pela Polícia Civil. Nesta sexta-feira (9), a delegada Gleide Ângelo, de Recife, capital pernambucana, assumiu a chefia das investigações, com apoio dos delegados Marceone Ferreira e Alfredo Jorge.
A polícia não descarta nenhuma linha de investigação. Para o delegado Marceone Ferreira, tudo indica que o crime não foi planejado para atingir Beatriz, mas, qualquer outra criança. O promotor responsável pelo caso, Carlan Carlo, acredita que a morte tenha motivação religiosa.
Beatriz foi assassinada com cerca de 42 facadas nas dependências de um dos mais tradicionais colégios particulares de Petrolina. O crime ocorreu dentro da quadra poliesportiva da instituição de ensino, onde acontecia a solenidade de formatura das turmas do terceiro ano da escola. A festa contava com a participação de aproximadamente 2.500 pessoas, entre alunos, convidados e funcionários.
A criança estava com a mãe, Lúcia Mota, com o pai e professor do colégio, Sandro Romilton, além de familiares, que prestigiavam a formatura da irmã mais velha de Beatriz.
A última imagem que a polícia tem de Beatriz foi registrada às 21h59, quando ela pede para ir até o bebedouro, localizado na parte inferior da quadra. Depois desse momento, a criança não retorna mais para o lado da mãe e não foi mais vista por nenhuma testemunha.
Em abril, o delegado Marceone Ferreira disse, em uma entrevista, que, pelo menos, cinco pessoas que eram funcionários do colégio podem ter participado do crime. Segundo o delegado, essas pessoas mentiram ou entraram em contradições durante os depoimentos. Mas, ele alegou que até o momento não tinha provas suficientes para pedir a prisão de possíveis envolvidos na morte.

Dor da família
Um ano após a morte, Lúcia Mota e Sandro Romilton falaram ao G1, sobre a dor de perder a filha e como a rotina da família foi alterada nos últimos meses.
Depois do dia 10 de dezembro de 2015, tanto Sandro, como Lúcia, pediram afastamento do trabalho. “Eu já pensei e não encontrei nada pior para acontecer com um ser humano, como aconteceu conosco. Quando a gente perde um ente querido da família, a gente se apoia no trabalho, nos amigos, nos afazeres do dia a dia para retomar a vida. Nós não tivemos esse direito. O crime ocorreu na nossa escola, onde a gente trabalhava, onde ela estudava. Não pude mais trabalhar”, disse Sandro.
“Não temos condições de voltar a nossa rotina. Nossos trabalhos requerem muita atenção, muita leitura e me falta ainda esse equilíbrio para concluir algo desse tipo”, fala Lúcia.
O sítio onde a família vivia está fechado. Os pais de Beatriz e os dois filhos, de 18 e 11 anos, agora moram em um condomínio, em Juazeiro, na Bahia, cidade vizinha à Petrolina.
“A nossa residência foi planejada principalmente para Beatriz, que veio por último. Tinha o parque dela, tinhas as coisinhas dela, os brinquedos, tudo no seu lugar. E retornar, é muito dolorido. A gente dificilmente volta em casa. Uma vez ou outra eu passo lá, vejo tudo parado, aquele silêncio, aquela saudade, aquela ausência. Ainda tem roupinha dela, com o cheirinho dela, vem aquela lembrança, aquela saudade boa. A gente perdeu isso também”, conta Sandro.
Lúcia diz que não consegue entrar na antiga residência porque tudo lembra a filha. A única vez que esteve no local foi acompanhada por um psicólogo e um psiquiatra.
“Não consigo retornar para minha casa, não me vejo entrado na minha casa sem a minha princesa, sem meus filhos todos. Tenho muita saudade. Sonho, as vezes estou aqui sentada, sinto um cheiro, visualizo tudo que era da rotina, mas não tenho coragem de retornar para nossa casa sem minha princesa. Não tem como você virar uma página”, diz Lúcia.
"Saímos de casa, do trabalho, algumas pessoas que se diziam amigas não nos procuram mais. É difícil ter que conviver com a ausência porque a saudade só aumenta, ela não diminuiu. Deus tem feito a gente sonhar com Beatriz. São bem simbólicos, são sonhos acalentadores, dela chegando, abraçando, dizendo 'eu te amo', que está com saudade. O que nós faz realmente levantar durante o dia para continuar a viver, é que nós temos ainda dois filhos”, desabafa o pai de Beatriz..
“Beatriz era a coisa mais linda que eu já vi na minha vida. Trazia muita alegria. Quem conhecia, quem convivia com ela, sabe do cuidado que nós tínhamos com Beatriz. Sempre obediente, carinhosa, fazia suas orações ao deitar e ao acordar, nos abraçava sempre. Isso faz uma falta imensurável”, lamenta Sandro.
Enquanto a irmã mais velha de Beatriz aguardar o início das aulas da faculdade, toda a atenção é voltada para o filho mais novo. Depois do crime, os pais acompanham o garoto quase 24 horas.
Beatriz Angélica Mota (Foto: Arquivo pessoal / Família)Beatriz Angélica Mota (Foto: Arquivo pessoal /
Família)
Beatriz no dia do crime
Os primeiros registros feitos pelas câmeras que fizeram a cobertura oficial do evento começam às 18h25. Os convidados começam a chegar ao Ginásio de Esportes pela entrada principal. Beatriz aparece nas imagens às 19h10, onde permanece sentada perto do pai, Sandro Romilton, que também participava da solenidade. Entre os alunos que comemoram a formatura do terceiro ano, está a irmã de Beatriz.
A menina ficou perto da família durante todo o evento e próximo ao final da festa, pediu a mãe para ir até o bebedouro, na parte inferior da quadra e não retorna mais. Cerca de 20 minutos depois, Lúcia Mota desce a arquibancada, de onde assistia a festa de formatura e vai até o bebedouro procurar a filha.
Às 22h40, o professor da instituição e pai da criança, Sandro Romilton sobe ao palco e pede a ajuda dos convidados para procurar Beatriz. O pedido foi registrado pelas câmeras que faziam a filmagem do evento.
“Beatriz, ô minha filha, onde é que você está? Ô Bia. Está todo mundo procurando por você, meu amor. Ela está vestida como eu aqui, com o rosto da irmã [mostrando a camiseta branca com a foto da filha mais velha]", diz.
Angustiado, Sandro pede ajuda dos convidados. "Ela tem sete anos, estava brincando com uma coleguinha. Eu já procurei em todos os lugares que vocês imaginam aqui nessa escola e ainda não achei minha filha. Estou desesperado", diz o pai. O último registro das câmeras oficiais do evento ocorre um minuto depois, quando todos param o que estão fazendo para ajudar nas buscas.
Marca mostra como o corpo de Beatriz foi encontrado (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Marca mostra como o corpo de Beatriz foi
encontrado (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Minutos depois o corpo de Beatriz foi encontrado atrás de um armário, dentro de uma sala de material esportivo que estava desativada após um incêndio provocado por ex-alunos do colégio. A polícia descartou a possibilidade de violência sexual. A faca utilizada no crime foi deixava cravada na menina. A vítima tinha ferimentos no tórax, membros inferiores e superiores.
“Parecia uma cena de guerra, as pessoas gritando, desesperadas. E eu perguntei: ‘Sim, mas cadê Bia, cadê Bia?’. Me apontaram para uma sala, perto do bebedouro e eu cheguei até a porta dessa sala, tinha um segurança e ele disse: “Moço, não tem mais nada que o senhor possa fazer”, contou Sandro. informações da Taisa Alencar / G1 Petrolina.

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