Do Leandro Trajano
Durante muito tempo, falei sobre empréstimo consignado nos meus atendimentos e palestras de uma forma muito natural, mas, aos poucos, percebi que as pessoas não têm clareza sobre essa modalidade. Aqui vou detalhar melhor este assunto, para que você entenda como realmente funciona e se é um formato viável para você diante de alguma necessidade hoje ou no futuro. Foto: Montieur Monteiro / Petrolina News
O empréstimo consignado é comum para servidores públicos e funcionários de empresas privadas, desde que o órgão ou a empresa sejam conveniados a alguma instituição financeira, que através dessa parceria oferece o acesso ao empréstimo consignado. Essa modalidade é muito simples. Tem uma margem do seu salário que você pode ocupar com o uso desse crédito consignado, a chamada margem consignável, que é o valor máximo da renda de um trabalhador público ou privado, aposentado ou pensionista, em que o empréstimo é descontado direto da folha de pagamento ou benefício do INSS. Essa margem hoje é de 35%. Ou seja, esse é o percentual da renda que pode ser comprometido nesta operação. Essa margem foi ampliada em 2015, até então era de 30%. Se a renda é, por exemplo, RS 1.000, pode ter até R$ 350 comprometidos com as parcelas do crédito consignado.
Se você faz uso dessa modalidade, já deixa de receber o salário integral, o valor do empréstimo consignado é retido direto na fonte. Pelo fato de ser muito improvável que se deixe de pagar, dá acesso a uma taxa de juros muito mais baixa. Diferente do que acontece com o empréstimo pessoal, modalidade de empréstimo feita junto ao banco, e que tem os juros mais altos que o consignado, porém, por sua vez, bem abaixo do cheque especial. É muito mais fácil que as pessoas deixem de honrar com os pagamentos do empréstimo pessoal, e por esse risco maior, as taxas de juros são mais altas do que o consignado.
No meio público, a taxa de juros do consignado é de fato mais atrativa. Esse acesso mais fácil e “barato” acaba fazendo com que se tome mais dinheiro emprestado e levem a categoria a uma dura estatística: mais de 50% dos servidores estão endividados. Muitos pagam a dívida com outro empréstimo e, com isso, começa a bola de neve. Com o valor das parcelas já retido na fonte, a renda fica muito menor para custear as despesas fixas e variáveis do dia a dia.
A analogia que gosto de fazer torna fácil a percepção da realidade: imagine um orçamento apertado, este seria um copo de água bem cheio e, devido à necessidade, se levanta um empréstimo, e a parcela mensal a pagar esse empréstimo seria uma pedra de gelo. Imagine agora o copo de água bem cheio (que é o orçamento apertado) recebendo uma pedra de gelo (que é a parcela do empréstimo), o que deve acontecer com esse copo cheio ao receber mais um volume com a pedra de gelo? Pois essa é a situação que a falta de planejamento e consequente tomada de empréstimos sem ajustes leva à realidade financeira de uma pessoa.
Imagine alguém que toma um empréstimo consignado, por exemplo, para 96 meses, ou seja, oito anos, ela não pode deixar de pagar antes de quitar. Pode antecipar se tiver essa possibilidade, com um aumento no salário, recebimento de herança, entre outras possibilidades. Mas não pode adiar ou suspender se passar por algum momento de aperto, está presa por todo esse tempo, já que o valor é retido na fonte, fica sem escolha, não tem opção. Diferente do que acontece no empréstimo pessoal, que não recomendo, mas de acordo com a situação, em caso extremo, pode se optar por parar o fluxo de pagamento até se organizar e retomar adiante. No consignado, você tem um acesso com juros menores, porém, não tem flexibilidade. Naturalmente, defendo que ao tomar o empréstimo, a pessoa deve se organizar para honrar, independente da modalidade.
Em 2019, foram 138 bilhões em operações de crédito através dos consignados, são 35 milhões de beneficiários, desses, 23 milhões recebem um salário mínimo. Desta forma, o trabalhador que ganha um salário mínimo e tem a margem do consignado tomada fica com um líquido de aproximadamente R$ 700 no mês para a manutenção de vida. Se a MP 936/2020 que previa o aumento desta margem de 35 para 40% fosse aprovada, esse comprometimento da renda aumentaria ainda mais, deixando mais vulnerável a renda mensal dos trabalhadores.
O ideal, portanto, é que você procure ter as rédeas da sua vida financeira nas mãos. Domine o seu orçamento, procure não se comprometer com despesas fixas desnecessárias, é essencial viver dentro do padrão que realmente é possível para que não precise recorrer a empréstimos e, com isso, ter a possibilidade de se enrolar ainda mais. Uma vida financeira equilibrada te permite gastar menos do que ganha, vivendo dentro de suas possibilidades e poupando, compondo reserva para emergências e
adversidades, a fim de que, havendo necessidade, não precise pegar empréstimos, mas que possa recorrer a recursos próprios, tendo mais tranquilidade e podendo evitar problemas maiores em relação à vida financeira, que termina levando a vários outros distúrbios.
Conhecimento, consciência, pés no chão e equilíbrio, vamos em frente!
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