Flanelinhas não têm regulamentação e fiscalização eficaz em Petrolina, PE

             Na cidade tem atualmente 76 flanelinhas cadastrados.
            Secretário de Ordem Pública afirma que lei federal é genérica.

Parte dos flanelinhas é usuário de drogas, segundo Centro POP (Foto: Amanda Franco/ G1)Parte dos flanelinhas é usuário de drogas, segundo Centro POP (Foto: Amanda Franco/ G1)
Estacionar nas ruas do Centro de Petrolina, no Sertão pernambucano, é a certeza de ouvir questionamentos do tipo “Vai lavar hoje, patrão?” ou avisos como “Tô olhando viu!”. O que chega aos ouvidos, muitas vezes de forma intimidadora, vem de flanelinhas, profissionais autônomos que lavam ou guardam veículos, se registrado em órgãos do trabalho, de acordo com a legislação. Mas, onde não há registro, também não há fiscalização suficiente para coibir atos que beiram o crime, como as ameaças feitas por parte da categoria.
Flanelinha há oito anos, Marcones Alves da Silva, de 35 anos, marca seu ponto ao lado dos hospitais e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no Centro da cidade. No local há um alto fluxo de veículos que circulam diariamente. O flanelinha afirma que o seu trabalho é a base do sustento da família. “Antes, quando não estava nessa crise financeira, a gente tirava R$ 450 por semana. Mas com a crise, não chega a R$ 300”, disse Marcones, que começa a vida de guarda-carros às 6h.
Flanelinhas fazem abordagem nas ruas do Centro de Petrolina (Foto: Amanda Franco/ G1)Flanelinhas fazem abordagem nas ruas do Centro
de Petrolina (Foto: Amanda Franco/ G1)
Seu trabalho segue até o final da tarde e, segundo ele, é mais válido ser flanelinha do que ter outro tipo de emprego. “Eu vim para cá através do meu cunhado que trabalhava desde pequeno aqui neste ponto. Vim e me acostumei. Porque para trabalhar em qualquer serviço por aí, sem futuro, é melhor ficar aqui mesmo”, pontuou o flanelinha que destaca não impor quanto o 'cliente deve pagar pelo serviço'. “Eu não cobro, vai da vontade da pessoa de dar o valor que quer. Tem dias que é bom e outros razoáveis. Assim a gente leva a vida”, comentou o flanelinha, antes trabalhador rural e operário na construção civil.
Eliomar Temístocles Silva Simões, de 34 anos, é novato na profissão. Está há apenas dois meses trabalhando como flanelinha próximo à Justiça Federal, também no Centro da cidade. Ele conta que antes de resolver tornar-se lavador de carro já trabalhou como gari e vendedor de água de coco. “Tenho trabalho de tudo que você imaginar. Vim para cá porque o custo de vida agora está muito difícil”, destacou Eliomar.
A falta de formação profissional e muitas vezes a má fé dos flanelinhas acabam prejudicando uma parcela deles que tenta fazer daquilo um meio de sobrevivência. Mas lidar com a resistência de pessoas já acostumadas a serem extorquidas e ameaçadas por integrantes da categoria torna-se uma tarefa nada fácil. “O trabalho aqui é bom, mas uns entram no carro e não valorizam. Tem gente que passa e não dá ousadia. Pergunto se vão lavar o carro, a pessoa passa e nem olha. Ninguém é obrigado a tratar bem, mas somos discriminados porque, por causa de alguns, todos pagam”, ressaltou Eliomar.
O que Eliomar queria expressar é a relação de parte dos flanelinhas com o uso de drogas. Tanto ele quanto Marcones dizem que estão fora dessa situação tão comum entre os lavadores e guardadores de carros.  E é para sustentar o vício que, muitas vezes, a abordagem feita aos condutores torna-se tão ameaçadora. “Não é mentira que tem flanelinha que já chega inibindo, já tentando subornar a pessoa para não fazer nada contra ele ou contra o carro. Se a pessoa dá R$1 ou R$2, tem flanelinha que acha ruim. Aí o motorista já não vem mais e começa a xingar a gente. O sistema é este”, disse Marcones.
Estacionar em Petrolina é certo de ter um flanelinha próximo para lavar ou guardar o carro (Foto: Amanda Franco/ G1)Estacionar em Petrolina é certo de ter um flanelinha
próximo para lavar ou guardar o carro
(Foto: Amanda Franco/ G1)
Um ambulante que trabalha na mesma área dos flanelinhas preferiu não ser identificado por medo de sofrer ameaças, mas disse ao G1 que já presenciou cenas fortes que envolvem uso e tráfico de drogas na localidade. “É tanta história forte que a gente vê por aqui com flanelinhas que ninguém imagina. São usuários de crack, que muitas vezes mentem, dizem que estão com fome, que o dinheiro é para comer e pedem R$ 5 ou R$ 6 reais ao cliente”, contou o ambulante que se sente inseguro tendo que trabalhar no local. “Como não pode colocar um guarda o dia todo? O poder público não age. Se eles quisessem, tiravam este povo que usa droga daqui. Até prende, mas no outro dia eles estão de volta. O cidadão é quem fica vítima”, disse o ambulante.
Atualmente, a cidade de Petrolina tem 76 flanelinhas cadastrados. Em 2015, foram 11 novos. A maior parte deles está na Praça Dom Malan, da Catedral da cidade. Eles foram cadastrados pelo Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP). Mas nos registros do Centro também há flanelinhas em avenidas como a Castro Alves e ao lado do Museu. O Centro POP oferece serviços voltados à população em situação de rua com abordagens sociais, escutas e orientações psicológicas, além de cadastros em programas sociais como o Bolsa Família, entre outros.
De acordo com o diretor do local, Evaldo Francisco de Souza, já foi feita uma reunião entre a Polícia Militar, a Secretaria de Ordem Pública e os flanelinhas para tentar coibir os danos ao patrimônio e as agressões aos cidadãos. Ele destaca que o Centro realiza a parte social, dando assistência à categoria, mas não pode ter o papel de coibir. “A gente faz a abordagem e tenta encaminhar os que são usuários de drogas para o tratamento, mas eles não aceitam. São muito resistentes.”, disse
Segundo Evaldo Souza, a solução seria qualificar os flanelinhas para, então, poder legalizá-los como profissionais registrados no município, porém ainda não existe um projeto que integre o Centro POP e a Secretaria de Ordem Pública, que ficaria responsável pela fiscalização. “Depois do disciplinamento seria mais fácil trabalharmos. A nossa proposta é buscar junto ao Sebrae um serviço de qualificação e a questão de legalização”, explicou.
Jenivaldo dos Santos fala que lei é genérica (Foto: Amanda Franco/ G1)Jenivaldo dos Santos fala que lei é genérica
(Foto: Amanda Franco/ G1)
A lei federal que rege os lavadores e guardadores de veículos é de 1975 e consta que, para exercer a profissão, é preciso um registro em Delegacias Regionais do Trabalho em convênio com órgãos da Administração Pública Federal, Estadual ou Municipal. De acordo com o secretário de Ordem Pública de Petrolina, Jenivaldo dos Santos, a legislação federal é genérica, o que provoca a necessidade da criação de normas municipais.
“Tem que ter uma norma municipal que trate melhor esta questão. A lei federal é genérica e cada cidade tem suas particularidades. Penso que tem que ter uma ampla discussão com a população. Ela quer isso mesmo? Qual a punição? A lei federal não é clara para estes pontos. Tem que ter uma norma que embase o órgão fiscalizador”, destacou o secretário de Ordem Pública. (fonte: Amanda Franco Do G1 Petrolina)
Petrolina News

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