Após demissões e saídas da Ford e LG, Taubaté tem perdas e desafios

Por Márcio Pinho, do R7

Reprodução / Record TV


As mais de 1,5 mil demissões na indústria de Taubaté neste ano por conta do encerramento da produção das fábricas da Ford e da LG, agravada pelas restrições trazidas pela covid-19 e demissões em outras fábricas no ano passado, geram um cenário de perdas para a economia da cidade, impacto no comércio e preocupações e desafios para os próximos anos.

O fechamento de postos se soma ao de cidades vizinhas que também abrigam importantes indústrias. A Embraer, que tem sede em São José dos Campos (SP), anunciou no ano passado a demissão de 2,5 mil funcionários. A General Motors adotou a mesma linha e desligou 43 trabalhadores.

Segundo o prefeito de Taubaté, José Saud (MDB), o fechamento das empresas impacta do emprego em Taubaté e também as finanças. “Nunca é bom ter empresas fechando, ainda mais no período pandêmico que vivemos”, afirmou. Ele explica que apenas a Ford e a LG contribuíam com pelo menos R$ 3 milhões por ano em impostos municipais.

A cidade de 318 mil habitantes é um polo industrial do estado e do país. O município do Vale do Paraíba conta com 127 indústrias, segundo a Fecomercio-SP.

Com essa vocação consolidada, a prefeitura tenta atrair outras empresas para evitar perdas com a saída da Ford e da LG. Nos últimos meses, vem negociando com cinco companhias não relevadas a concessão de áreas e encaminhou à Ford interessados em adquirir a planta da empresa. A cidade também negocia com municípios vizinhos a criação de um programa para atrair empresas do setor automotivo – a região mantém, além de fábrica da GM, plantas da Volkswagen e da Caoa Chery.

No entanto, a intenção é não depender tanto do setor automotivo e da indústria. Por isso, também está nos planos o crescimento do agronegócio, e a cidade tenta regulamentar a venda de produtos de origem animal.

Impacto

A Ford e a LG anunciaram o fechamento de fábricas em Taubaté como parte de estratégias globais de reposicionamento das empresas. No caso da montadora, o encerramento atinge também unidades em Camaçari (BA) e Horizonte (CE). Na fábrica de Taubaté foram demitidos 830 funcionários.

Já a LG anunciou em abril que deixaria o negócio de smartphones em todo o mundo. Na fábrica de Taubaté, a demissão atinge 705 funcionários, e outra parte da fábrica, a voltada a itens como notebooks e telas, será transferida para outra planta da empresa em Manaus (AM).

Apesar de as 1,5 mil vagas fechadas serem apenas uma parcela frente aos 73 mil trabalhadores com carteira assinada em Taubaté, há a preocupação em relação ao impacto na economia. Não só porque os salários dos trabalhadores da indústria são maiores que a média, mas também porque a atuação dessas fábricas tem ligação com indústrias de peças e outros itens que já começam a apresentar problemas.

Segundo Ricardo Vilhena, presidente da Acit (Associação Comercial e Industrial de Taubaté), a estimativa é que os fechamentos anunciados neste início de ano atinjam 4 mil empregos, considerando também os impactos de forma indireta. A entidade calcula em R$ 150 milhões o volume de dinheiro por ano que deixará de circular na cidade.

Enquanto Taubaté não encontra novos caminhos para sua economia e, assim como o resto do país, tem que lidar com a pandemia de covid-19, o comércio sente o impacto nas vendas. A Acit calcula a queda no faturamento e na atividade comercial em 20%.

Vilhena explica que alguns órgãos, como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ainda tentam evitar que a LG mude a produção que restou para Manaus. Apesar do esforço, o caminho da cidade passa necessariamente por uma mudança de paradigma, defende.
“Taubaté ficou muito tempo dependendo da indústria como grande geradora de emprego.

Apesar de comércio e serviços terem crescido, agronegócio e turismo foram pouco trabalhados. A cidade tem muito potencial turístico. É preciso mudar a matriz econômica para diminuir os impactos”, afirma.

Para Dan Guinsburg, presidente do Sincovat (Sindicato do Comércio Varejista de Taubaté), o impacto das demissões será melhor mensurado a partir do ano que vem, já sem as restrições da pandemia. Além disso, muitos ex-funcionários aderiram a acordos com as empresas e receberam indenizações e mantiveram benefícios como o plano de saúde. Não ficaram, portanto, totalmente descapitalizados.

“O trabalhador ainda não sentiu o baque. A gente sabe que pessoas quando perdem o emprego pisam no freio, diminuem o consumo, com certeza esse pessoal já está se preocupando com isso. Mas ainda existe essa coisa do brasileiro de vamos esperar para ver no que dá”, diz.

Acordos

Tanto na Ford como na LG, os funcionários fizeram greves após o anúncio dos fechamentos e só aceitaram as demissões após acordos. O processo mais demorado foi o da Ford, que teve negociações por três meses. Os trabalhadores se mobilizaram e fizeram vigília na porta da fábrica para que pudessem ser ressarcidos.

Segundo o Sindmetau (Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté), o PDI (Plano de Demissão Incentivada) acordado estabelece o pagamento de dois salários adicionais por ano trabalhado para os funcionários horistas. Para os mensalistas, o valor é de um salário adicional por ano trabalhado. Isso além das verbas rescisórias legais.

O plano prevê a abertura de um programa de qualificação para auxiliar os trabalhadores na reinserção no mercado. Entidades como Senai e Senac ministrarão os cursos.

Na LG, o valor individual das indenizações vai variar entre R$ 12 mil a R$ 73 mil, sendo calculadas de acordo com o tempo de casa e o salário de cada funcionário. O acordo também estabelece pontos como pagamento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e extensão do plano médico até 31 de janeiro de 2022.

O Sindmetau, em parceria com outros sindicatos da região, anunciou que vai criar uma rede para que os currículos dos trabalhadores e trabalhadoras na LG sejam encaminhados para possíveis vagas nas indústrias da região.

O secretário-geral da entidade, Aldrey Cândido, afirma que Taubaté, por ser uma cidade industrial e ter um polo tecnológico está à deriva da política nacional das indústrias. Ele pede uma política mais séria e forte para as indústrias por parte do governo federal.

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