UFPE anuncia que corre o risco de parar de funcionar no 2º semestre após bloqueio de mais de R$ 50 milhões pelo MEC

Foto: Reprodução / TV Globo

O bloqueio de mais de R$ 50 milhões no orçamento da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pelo Ministério da Educação (MEC) representa 30% das despesas para mantê-la funcionando. A instituição afirma que corre o risco de parar de funcionar no segundo semestre de 2019 por causa desse corte de verbas, o maior em 73 anos de funcionamento.

"Sem dúvidas, a universidade pode parar, porque o orçamento vai acabar. A gente não vai ter condições de arcar com a energia, com os terceirizados. Então, a universidade certamente pode parar no segundo semestre, caso esse bloqueio não seja revisto pelo governo federal", declara o pró-reitor de orçamento e finanças da UFPE, Thiago Galvão.
A TV Globo tem acompanhado as perspectivas das instituições federais no estado após bloqueios que totalizam R$ 101 milhões. Na terça (7), o NE2 mostrou o impacto na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que teve mais de R$ 27 milhões bloqueados. Na quinta (9), é a vez da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

Proporcionalmente, o bloqueio foi ainda maior nos recursos para novos investimentos. A UFPE teve bloqueados R$ 5,8 milhões, 55% do que seria gasto na compra de novos equipamentos, construção de prédios e melhorias na infraestrutura.

"Já ocorreram contingenciamento, que são liberações parciais, de por exemplo 90% ou 80% do orçamento. Nunca houve um bloqueio de 30%. Dessa vez, a gente teve um crédito indisponível, um bloqueio no nosso orçamento. Isso faz com que não possamos indicar esse orçamento para uma licitação, para um contrato, e isso gera um risco de descontinuidade", afirma o pró-reitor.

Ainda segundo Thiago Galvão, se antes já era difícil pagar as contas, a situação fica insustentável, pois, desde 2015, o orçamento para despesas básicas, como limpeza, segurança, manutenção de equipamentos, água e luz, é praticamente o mesmo. Com o bloqueio, a universidade só tem verba para funcionar até setembro.

"A gente não pode, de uma hora para a outra, demitir metade dos funcionários de limpeza, de segurança, e acreditar que a universidade não vá ter um impacto significativo com isso. E, mesmo assim, a gente não conseguiria atingir os 30%, ou os R$ 50 milhões que foram bloqueados", afirma.

Sem dinheiro para pagar os contratos já firmados, a universidade corre o risco de parar sem que o ano letivo seja concluído. A UFPE tem 41.751 estudantes, 107 cursos de graduação, 90 de mestrado e 50 de doutorado. Cerca de 70% dos universitários são de famílias com renda mensal de até 1,5 salário mínimo. Quase metade deles, 48,5%, veio de escolas públicas.

Além da importância social, a UFPE é a oitava melhor do país em nível de produção de trabalhos e artigos científicos. Foram 2.500 publicações em 2018. Para o reitor da universidade, Anísio Brasileiro, o prejuízo no desenvolvimento de pesquisas, tecnologia e inovação é incalculável.

"Quem perde é o povo brasileiro, porque a universidade é da sociedade, pertence ao Brasil. Por isso nós estamos muito mobilizados, no Congresso Nacional e em todos os segmentos da sociedade, porque ela precisa defender a universidade. O futuro de um país depende da sua universidade pública", diz o reitor.

Ainda segundo Anísio, o corte nas universidades, além de afetar a sociedade, também prejudica a produção de conhecimento do país.

"São dois ataques. O primeiro é às ciências humanas, que é uma ameaça violenta ao conhecimento, que é a força propulsora de uma nação. O sentido da universidade é o conhecimento, entendimento da diversidade da natureza e das grandes questões da humanidade. O segundo é ao orçamento, que foi definido pelo Congresso, por lei", afirma.

Gestores reagem a cortes

Durante reunião na manhã desta quarta-feira (8), reitores de cinco universidades de Pernambuco reagiram ao corte de verbas e anunciaram uma série de mobilizações para mostrar a importância do trabalho acadêmico para a sociedade. Os atos estão previstos para o dia 21 de maio, em espaços públicos e nos campi das instituições.
Coordenada pela reitora da UFRPE, Maria José Sena, a mobilização contra os cortes também tem a participação da UFPE, além da Univasf. A Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e a Universidade de Pernambuco (UPE), mesmo não sendo federais públicas, se integram ao movimento.

De acordo com a estudante Jarluze Azevedo, o bloqueio dificulta o estudo de quem não tem dinheiro para sobreviver. "Do ponto de vista de quem é estudante, que não tem nenhuma estrutura financeira ou rentabilidade, esse corte atinge a sobrevivência do aluno na universidade", afirma.

Segundo a professora Liana Lewis, a situação financeira da universidade inviabiliza o trabalho acadêmico.

"Essa notícia [do bloqueio de verbas] é desesperadora, porque representa a inviabilização do nosso trabalho. Estamos falando de questões absolutamente básicas para a manutenção da universidade. A gente tem que lembrar que o grande esteio da pesquisa nesse país vem das universidades públicas", diz. As informações são de Beatriz Castro e Pedro Alves, TV Globo e G1 PE.

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