Análise – Inflação: boa para o governo, péssima para a população

Foto: Montieur Monteiro / Petrolina News


A inflação de 2021 ficou acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — que era de 5,25% — e chegou aos dois dígitos, fechando em 10,06%, o maior índice em seis anos. Enquanto isso a arrecadação de impostos federais bateu a maior soma desde o Plano Real, lançado em 1994: quase R$ 1,9 trilhão.

Mais dinheiro nos cofres públicos, menos dinheiro no bolso dos brasileiros. O educador financeiro e criador do método Viver de Renda, Bruno Perini, explica a relação entre a inflação de dois dígitos e o recorde de arrecadação. “Se um certo tipo de carne custa R$ 20 o quilo e 30% desse valor corresponde a impostos, a arrecadação será de R$ 6 por quilo vendido. Mas, se o preço da carne dobrar, os impostos igualmente dobram.”

Evidentemente que a inflação afeta as contas de toda a população, porém ela sempre vai pesar mais no bolso dos mais pobres. Isso é bem simples de entender quando consideramos o mesmo cálculo da carne para todos os produtos e serviços essenciais.

Em 2021, o gás de cozinha subiu mais de 35%, a energia elétrica cerca de 25% e alimentos comuns na mesa do brasileiro tiveram um verdadeiro salto nos preços, como o café (50,24%), a mandioca (48,8%), o arroz (40%) e o feijão (36%). Enquanto para uma família com renda mensal de R$ 5 mil, comprar um botijão de gás representa cerca de 2% do orçamento, para quem recebe um salário mínimo, a despesa leva quase 10%.

Perini explica que, quando se fala em moeda fiduciária (que representa apenas o valor atribuído a ela, como real, dólar, euro ou qualquer moeda), a inflação não é algo transitório, mas, sim, permanente. Afinal de contas, ela beneficia o Estado.

“Manter uma ‘pequena’ e constante inflação tende a estar presente em qualquer plano de governo, independentemente do partido, pois auxilia a estrutura das contas públicas de um Estado que gasta demais”, afirma o educador e completa: “Os perdedores dessa história somos nós que precisamos aprender a investir para nos proteger da inflação. Quem faz isso mantém seu poder de compra, mas a grande maioria, que não faz, verá seu dinheiro valendo cada vez menos com o passar do tempo”.

Quem tem uma renda maior e possui conhecimento financeiro para proteger seu dinheiro consegue, de alguma forma, driblar os efeitos da inflação. Porém, para os mais pobres não há saída: sempre arcarão com a maior parte dessa conta e sentirão muito mais o peso dos impostos. Querer mais Estado é promover ainda mais a pobreza.

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