Ida de Bolsonaro à Rússia mostra contraposição aos EUA, diz especialista

Bolsonaro vai se encontrar com presidente da Rússia, que vive conflito com a Otan | Marcello Casal Jr./Agência Brasil


O presidente Jair Bolsonaro confirmou que vai viajar para Moscou e se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin. A viagem vem sendo alvo de críticas, já que a Rússia vive uma crise com a Otan (Organização do Tratatado do Atlântico Norte), liderada pelos Estados Unidos.

Para o especialista Acacio Miranda da Silva Filho, a visita de Bolsonaro à Rússia não demonstra necessariamente um apoio ao país no conflito, mas evidencia a pouca afinidade com o presidente americano, Joe Biden.

"A viagem do presidente à Rússia por si só não é um indicativo de apoio àquele país, mas demonstra, a partir de uma leitura de todas as circunstâncias, uma certa aproximação da política internacional russa, e muito mais do que isso, é muito mais significativa no sentido de uma contraposição a política atual norte-americana. Não é segredo a ninguém que o presidente Bolsonaro tinha bastante afinidade com o ex-presidente Donald Trump e tem pouca afinidade com o atual presidente Joe Biden", opina Acacio.

"Então, ela é significativa no sentido de indicar essa afinidade do presidente da República, que não necessariamente demonstra um indicativo dos próximos posicionamentos do Brasil em termos de relações internacionais, até porque as relações internacionais historicamente são muito mais pautadas por interesses comerciais do que por afinidade político ideológica", completa o especialista.

Para Acacio, o ideal é que o Brasil adote uma postura neutra perante o conflito, como faz historicamente, tanto para evitar sanções, como para manter intactas suas relações comerciais com os demais países.

"O Brasil, nas suas relações internacionais, historicamente fica neutro diante de todos os conflitos entre países. Contudo, nos últimos tempos há uma certa confusão por parte das relações internacionais, mas o correto diante de todos os interesses envolvidos, especialmente as relações comerciais que o Brasil tem com outros países, seria o posicionamento pela neutralidade", afirma.

Na visão do especialista, a Rússia viola a soberania da Ucrânia ao tentar impedir que ela integre a Otan. Por esse motivo, se posicionar ao lado dos russos pode trazer danos econômicos ao Brasil.

"Os eventuais prejuízos quando o Brasil, e se eventualmente o Brasil assumir uma posição em prol da Rússia, estão relacionados a sanções internacionais, especialmente sanções comerciais que o Brasil tenha com países que são contrários à Rússia, e principalmente relacionados aos direitos humanos, porque é evidente que há um viés de soberania em relação à Ucrânia. A Rússia está desrespeitando esse viés de soberania e isso pode reverberar sanções perante a ONU e por vezes até perante o Tribunal Penal Internacional", analisa Acacio.

Caso um confronto militar de fato aconteça entre tropas russas, ucranianas e da Otan, o Itamaraty pode se mobilizar para retirar os brasileros que estejam em áreas de conflito e queiram retornar a país.

"Se o estado brasileiro entender que isso pode reverberar algum prejuízo pros brasileiros que lá estejam, ele pode determinar que esses compareçam à embaixada pra que sejam de lá retirados. Agora, se um estado de guerra acontecer, é possível que o Brasil mande aviões das Forças Aéreas Brasileiras pra que esses brasileiros sejam de lá retirados com a maior celeridade possível e tenham as suas vidas preservadas. Então, cabe agora ao Itamarati, através da embaixada do Brasil na Ucrânia e da embaixada brasileira na Rússia, o mapeamento desses brasileiros e da situação deles pra que sejam tomadas as medidas cabíveis pra preservação da integridade da vida destes", afirma o especialista.

Postar um comentário

0 Comentários