Senador afirma que recebeu R$ 50 milhões em emendas como 'gratidão' por apoio à eleição de Pacheco; depois, disse ter sido 'mal interpretado'

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado


O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que recebeu R$ 50 milhões em emendas parlamentares como sinal de "gratidão" por ter apoiado a eleição do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em 2021.

Depois que a entrevista foi divulgada, Marcos do Val disse ter sido mal interpretado. Ele declarou que não houve negociação de emendas em troca de votos para Pacheco. As explicações foram dadas em notas à imprensa (leia íntegras das duas notas ao final desta reportagem).

Em uma das notas, o senador disse que, ao usar a palavra "gratidão" na entrevista, quis se referir à possibilidade de assumir a presidência da Comissão de Transparência do Senado, e não ao recebimento de emendas.

"Esclareço que a palavra 'gratidão' em nenhum momento se referiu a recurso orçamentário, e sim à possibilidade de Rodrigo Pacheco falar com o líder do meu partido para que eu assumisse a presidência da Comissão de Transparência, que pela proporcionalidade é do meu meu partido. Algo de que abri mão por um colega senador que desejava muito assumir a função", escreveu o parlamentar.

Segundo Marcos do Val, nunca houve proposta de apoio a Rodrigo Pacheco em troca de emendas.

A assessoria de imprensa do presidente do Senado afirmou que ele não vai comentar a entrevista.

As emendas a que Marcos do Val se referiu fazem parte do chamado "orçamento secreto". Emendas desse gênero são liberadas para parlamentares pelo relator do Orçamento, com base em acertos informais dentro do Congresso. São consideradas por especialistas menos transparentes e mais difíceis de rastrear.

Alcolumbre informou, disse

Ao "Estadão", o senador Marcos do Val disse ter sido informado pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) de que, como demonstração de gratidão de Pacheco, receberia R$ 50 milhões em emendas, mesmo valor que o destinado a líderes partidários.

Ainda segundo o relato de Marcos do Val ao jornal, a porcentagem da divisão de emendas havia sido definida por Pacheco em reunião com parlamentares.

"Eu não sei qual é a conversa que ele [Pacheco] teve em valores com os outros. Para mim, quem me ligou dizendo foi até o Davi, não foi nem o Rodrigo. E aí [foi] com o Davi que eu perguntei. Eu achei até muito para eu encaminhar para o estado [Espírito Santo], mas como [é] questão de saúde, eu não vou negar. Eu perguntei: 'Mas teve algum critério?' Ele só falou: 'Aquele critério que o Rodrigo falou para vocês lá no início'. 'Ah, tá, entendi.' Mas ele falou: 'Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder, pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado'. Eu falei: 'Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar', relatou Marcos do Val a "O Estado de S. Paulo".

Em nota, senadores do partido de Marcos do Val, o Podemos , declararam ser contrários ao recebimento de recursos por meio do orçamento secreto. O documento é assinado pelos outros oito senadores da bancada – somente do Val não consta como apoiador do texto.

“Não compactuamos com essa forma de se fazer política. Entendemos que as emendas individuais e de bancada são suficientes. Sempre defendemos o fim das emendas RP-9 [as do chamado 'orçamento secreto']”, diz a nota.

Na entrevista, o senador ressaltou que nunca houve proposta de apoio a Rodrigo Pacheco em troca de emendas.

"O critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele enquanto outros não apoiavam. Mas ele não prometeu. Em nome da minha filha — eu tenho uma, tem 16 anos —, em nome dela, eu te digo: em momento algum ele me prometeu um real, tipo assim: 'Me apoie que eu te dou um real'. Ou: 'Me apoie que eu te dou a presidência de uma comissão'. Nada, nada. Absolutamente, nada", adicionou Marcos do Val.

Questionado pelo repórter do jornal se isso não equivaleria a compra de voto, o senador respondeu:

"Olha, assim, no critério que ele tinha colocado, eu acho que eu ia receber... Era assim: a minha parte seria de R$ 10, 15, 20 [milhões], alguma coisa assim, entendeu? Então, como ele me colocou, me deu essa gratidão, como você falou, eu recebi. E aí, pode ser que eu esteja enganado, vocês que levantam tudo, eu acho que eu recebi o mesmo que os líderes", explicou o senador.

Notas do senador

Leia abaixo a íntegra das notas de Marcos do Val emitida após a publicação da entrevista a "O Estado de S. Paulo". A primeira foi a seguinte:

Só posso acreditar que fui mal interpretado quando concedi uma entrevista por telefone. Jamais houve qualquer tipo de negociação política para a eleição do presidente Rodrigo Pacheco que envolvesse recursos orçamentários. Afirmo com toda certeza que jamais aconteceu.

Fiz referência a existência de critérios no Senado para indicações transparentes de recursos por Senadores, inclusive elogiando a postura do Presidente Pacheco nesse sentido.

Sobre as específicas indicações que fiz de emendas orçamentárias desde que assumi o mandato, isso é uma prerrogativa parlamentar, totalmente licita, transparente, um compromisso que assumi quando eleito para ajudar o meu Estado e seus municípios. Reforço mais uma vez, que todo o recurso orçamentário recebido foi destinado ao Espírito Santo e por iniciativa própria sempre foram informados na sua integralidade ao Ministério Público do ES.


Peço desculpas por eventual mal-entendido.

A outra nota divulgada pelo senador é a seguinte:

Em relação à interpretação que foi dada em uma entrevista que concedi por telefone esclareço:

Que a palavra 'gratidão' em nenhum momento se referiu a recurso orçamentário, e sim à possibilidade de Rodrigo Pacheco falar com o líder do meu partido para que eu assumisse a presidência da Comissão de Transparência, que pela proporcionalidade é do meu meu partido.

Algo de que abri mão, por um colega senador desejava muito assumir a função.


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