Selic: Banco Central mantém taxa básica de juros em 10,5% ao ano

Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC), decidiu nesta quarta-feira (19) manter a taxa básica de juros, Selic, em 10,5% ao ano. A reunião começou nessa terça (18) e ocorreu em meio a novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.

A decisão confirma a expectativa do mercado financeiro, que previa a manutenção da taxa, apesar das críticas do governo pressionando por mais cortes. O início do ciclo de cortes foi em julho de 2023, após quase um ano a 13,75%, e chegou ao patamar atual na última reunião em maio.

A Selic, ou Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, nada mais é do que a taxa básica de juros da economia, que influencia outras taxas de juros do país, como taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. A definição da taxa Selic é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. Confira a íntegra do comunicado abaixo.

O que mudou desde a última reunião

Agentes do mercado que antes viam grandes chances de o ciclo de cortes seguir até o final do ano, agora apostam na pausa de reduções ou até mesmo do fim dos cortes para ainda para 2024, após novas projeções para a inflação e incertezas no cenário externo, com a economia dos EUA no retrovisor.

“De lá [maio] para cá, a inflação implícita para este ano subiu de 4,0% para 4,35%, as taxas dos juros prefixados de longo prazo saíram da vizinhança dos 11,5% a.a. e estão próximas a 12,1% a.a., e o dólar, que estava ao redor de R$ 5,08, está em R$ 5,37. Assim, o mercado espera manutenção da taxa no patamar de 10,5% a.a., por decisão unânime, encerrando por ora o ciclo de queda”, diz o Itaú BBA em relatório divulgado antes da decisão.

Também apoiado nos dados de inflação, o UBS BB não esperava por mudanças na Selic desta vez. “Após a deterioração das expectativas de inflação e das condições financeiras ao longo do das últimas semanas, acreditamos que o Copom fará uma pausa no seu ciclo de flexibilização”.

Mas o banco vê chances de mudanças no radar na última reunião do ano, em dezembro. “Esperamos agora que o BCB retomará os cortes apenas em dezembro, juntamente com o primeiro corte por parte do Fed [banco central dos Estados Unidos]. (…) Nossa expectativa da taxa permanece em 8,5% para o final de 2024”.

Pressão e 'fritura'

Em entrevista ontem à rádio CBN, Lula declarou que o "comportamento do Banco Central" é a única "coisa desajustada neste país". "Presidente [Campos Neto] tem lado político, trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", disse o petista.

Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e à frente do BC desde 2019, Campos Neto sai do cargo em 31 de dezembro de 2024.

Lula falou ontem que pretende escolher uma "pessoa madura, calejada, responsável, alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce e alguém que não se submeta a pressões de mercado, e que faça aquilo que for de interesse de 213 milhões de brasileiros".

Juros: comportamento nos últimos três anos

Entre março de 2021 e agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes seguidas, ainda no contexto da pandemia de covid-19 e alta de preços de alimentos, energia e combustíveis.

De agosto de 2022 ao mesmo mês de 2023, a taxa permaneceu em 13,75% ao ano. Depois, até março de 2024, o Copom reduziu a taxa para 10,5% ao ano, sempre com cortes de 0,5%. Mas, na última reunião, desacelerou a diminuição, cortando 0,25%.

A projeção do mercado financeiro, segundo a pesquisa Focus, é de que a Selic termine 2024 em 10,5% ao ano. Para o fim de 2025, expectativa chega a 9,5% ao ano. Já para 2026 e 2027, espera-se taxa de 9% ao ano.

CNI contra interrupção de cortes

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu, esta semana, continuidade da rotina de cortes na Selic. Em comunicado divulgado nessa terça, a entidade classifica 10,5% ao ano como "patamar muito alto", que "atua no sentido de contrair a atividade econômica".

"Pois dificulta o acesso ao crédito e, consequentemente, reduz o crescimento econômico. Os prejuízos são sentidos por toda a sociedade, sobretudo em termos de emprego e renda", diz.

O presidente da CNI, Ricardo Alban, diz na nota defender corte de pelo menos 0,25%, como ocorreu na última reunião do Copom. A organização também afirma que comportamento da inflação "não justifica uma interrupção do ciclo de cortes na Selic, que seria precipitada e inadequada".

"Embora a inflação corrente tenha acelerado em maio, assim como as expectativas para 2024 também tenham sido elevadas nas últimas semanas, deve-se frisar que esse movimento ainda é muito recente e, por isso, não configura mudança estrutural no comportamento dos preços", continua.


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