Em ano marcante para um jovem de Petrolina (PE) supera perda da mão antes do Enem, reaprende a escrever e sonha em ser engenheiro

No momento do acidente o jovem achou que tinha perdido todas as oportunidades da vida.  Foto: Reprodução/TV Grande Rio

O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) só será divulgado no dia 17 de janeiro. No entanto, para um jovem morador da zona rural de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, o sentimento de vitória é real. Após meses de preparação, o estudante Marcleysson Rodrigues Bonfim, de 18 anos, perdeu a mão direita em um acidente, cinco dias antes do segundo domingo de provas. O que para muitos poderia ter sido a interrupção de um sonho, para Marcleysson, se transformou em mais um obstáculo a ser vencido.

O filho dos trabalhadores rurais, Maria da Paz e Edivando Vital do Bonfim, sempre teve um objetivo: ser engenheiro elétrico. Ele trabalhava pela manhã na roça com os pais e estudava a tarde. A rotina do estudante mudou no dia 5 de novembro, quando uma máquina forrageira, utilizada para triturar produtos rurais, tirou dele a mão direita.

"Era para ser aquele dia normal, a gente fazendo as atividades diárias, mas teve a dificuldade. Aconteceu por conta de uma luva, era grande, quando eu ia recolher a mão, a máquina puxou, aí eu puxei a mão...", lembra .

Em meio a tragédia, na cabeça de Marcleysson o sentimento era apenas de frustração. Naquele momento o jovem achou que tinha perdido todas as oportunidades da vida. "Não vou conseguir mais fazer nada, não vou conseguir algum objetivo", pensou o estudante, para em seguida perceber que não era hora de desistir. "Não vou deixar me abater", disse para si mesmo.



A forrageira, máquina de trituração de produtos rurais que fez Marcleysson perder a mão. Foto: Reprodução/TV Grande Rio

Quando soube do acidente com Marcleysson, seu Edivando conta que ficou mais nervoso que o filho. "Meu menino tão inteligente, e perder a mãozinha dele. Mas, depois caiu a ficha: ele perdeu a mão, mas não perdeu a vida. Vai ser ruim sem a mão, mas tenho certeza que não vai parar e vai conseguir muita coisa", afirma.

Ainda no hospital, depois de 32 horas internado, o jovem contou com o suporte do professor para aprender a escrever com a mão esquerda. O prazo para isso eram apenas três dias. "Botei na mente que ia ter que inverter, não ia mais fazer com a direita, ia ter que tentar com a esquerda", diz Marcleysson.

O professor Alberto Filho Coelho, desde que soube do acidente, acreditou que o estudante não iria desistir da prova. Estava como chefe de prédio da escola que Marcleysson faria o exame e acionou a coordenação do Enem para solicitar um auxiliar. "Quando estava no portão da escola, aguardando ele, e o vi, dei sinal para o pessoal e falei: ele já chegou, está aqui. Naquele momento eu precisava ver ele chegando na escola, precisava estar presente".

A escola onde Marcleysson fez o Enem e cursou o ensino médio fica no distrito de Rajada, a 30 km do povoado do Caroá, onde ele mora com a família. No dia da prova, quando respondeu questões de ciências da natureza e matemática, o jovem passou por todo o processo sem a ajuda do auxiliar, que havia sido disponibilizado pela coordenação do Exame.

O curso pretendido pelo estudante é ofertado no campus Juazeiro, BA, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), cidade vizinha a Petrolina. "Vou ficar dividido entre a cidade e o interior", brinca Marcleysson. No entanto, independente de qualquer dificuldade, ele garante que vai tentar manter o futuro intacto. As informações são do Pedro Miranda / Emerson Rocha, do G1 Petrolina.

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